quarta-feira, 24 de julho de 2013

No frio, Prefeitura de SP usa ônibus para recolher morador de rua

Objetivo da ação é evitar que moradores enfrentassem o frio intenso.
Três ônibus faziam viagens aos 63 abrigos da Prefeitura de SP.


Num esforço para intensificar o atendimento a pessoas que moram nas ruas, a Prefeitura de São Paulo contou até com ônibus para conduzi-las aos abrigos na noite desta terça-feira (23), uma das mais frias de 2013 até agora
.
Três coletivos faziam viagens aos 63 abrigos para evitar que os moradores de rua enfrentassem a mínima de 6°C prevista para esta quarta-feira (24). Com o vento gelado, a sensação térmica poderia chegar a 3°C. Na Avenida Paulista, por exemplo, a sensação térmica chegou a -1°C por volta de 0h30, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE).
G1 acompanhou o trabalho dos assistentes sociais entre as 21h de terça a 0h de quarta. Fora as dez peruas da assistência social, o esforço da Prefeitura contou com os carros da Defesa Civil e da Guarda Civil Metropolitana, que estavam liberados para recolher os moradores aos abrigos.
Quando os termômetros registram 13ºC, a Defesa Civil decreta estado de atenção, e as equipes da Prefeitura percorrem as ruas da cidade para oferecer acolhimento às pessoas em situação de risco, como prevê a Operação Baixas Temperaturas. Abaixo de 10ºC, a Defesa Civil decreta estado de alerta.
Como a temperatura caiu muito, a operação foi intensificada desde a manhã de terça. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, foram deslocados quase 400 profissionais para fazer a patrulha pela cidade. O horário de circulação das rondas também foi ampliado, de 22h para meia-noite.
Além disso, 3 mil vagas em abrigos foram adicionadas às 9 mil já existentes. Para isso, a Prefeitura fez aditivos nos contratos das entidades que administram os abrigos e entrou em acordo com a Defesa Civil, que liberou um galpão, e a secretaria de Esportes, que reservou um ginásio poliesportivo.
Durante as rondas, os assistentes sociais ofereciam abrigo, refeição (jantar e café da manhã), mas nem sempre conseguiam convencer os moradores de rua. Foram cinco as negativas. Em uma delas, na Rua Tabatinguera, no Centro, uma mulher que se identificou como Fátima e disse ter 55 anos dispensou a ajuda e preferiu passar a noite na soleira de uma loja.
As assistentes pretendiam levá-la ao abrigo da Casa Verde destinado a receber apenas mulheres. Fátima foi encontrada quando as assistentes voltavam por volta das 21h40 do abrigo Alcântara Machado, próximo à estação Parque D.Pedro II. Para lá haviam levado seis pessoas. Com isso a capacidade máxima de 40 havia sido atingida.
Dada a lotação, as assistentes passaram a direcionar as pessoas recolhidas para o galpão da Defesa Civil, na Avenida Zaki Narchi. Geralmente usado para receber doações, o prédio comportava 2 mil pessoas. Por volta das 22h30, já era ocupado por 228. A expectativa era de receber mais 600 ainda na noite desta terça. O padre Júlio Lancellotti, ligado às questões da população em situação de rua, acompanhava o serviço de atendimento.
Juntamente com membros da Igreja, o padre pretendia fazer uma ronda pela Zona Leste para distribuir cobertores. Quando um ônibus vindo do Pátio do Colégio, no Centro, com cerca de 20 pessoas chegou ao galpão, o grupo do padre ofereceu meias a eles. “O Papa me animou. Animou tanto que eu estou aqui”, afirmou Lancellotti.
Enquanto isso, os funcionários da Prefeitura acionaram o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para atender uma moradora de rua que havia entrado em estado de hipotermia na Avenida Cruzeiro do Sul. Aproveitaram também para enviar o ônibus que havia chegado à Praça 14 Bis, na Avenida Nove de Julho, para resgatar alguns moradores de rua.
Lá, cerca de 20 pessoas se abrigavam em baixo de um viaduto. Apenas oito embarcaram. O resto se contentou em tomar o chá quente oferecido por uma ONG e dormir.
Entre os que aceitaram estava Adriana Ribeiro de Melo, 39, que diz estar há quatro meses na rua. Avó de dois meninos –“O segundo, Gabriel, ainda não tive o prazer de conhecer” – e mãe de três, Adriana fugiu da casa em Peruíbe, no litoral de São Paulo, por apanhar do marido, um ex-presidiário. Dando ‘um tiro no escuro’, veio para São Paulo. “Agora, é que eu estou tendo paz, para falar a verdade. Eu tinha de tudo, mas não tinha paz”, afirmou a mulher, que diz ter asma e pedras no rim.
Enquanto conversava com a reportagem, Adriana acariciava o companheiro Edson da Cunha Matos, 24. “Agora se acalma. Eu não tô chorando mais.” Os dois afirmaram não querer mais voltar para a rua. Às pessoas que quiserem, no entanto, a Prefeitura deixará quatro ônibus à disposição para fazer a recondução à rua.
Fonte: G1

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